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Menopausa aos 29 anos???
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Antes do meu caminho para adoção, tive outra história que nunca contei, de luto, que ainda dói, e muito...
Acontece que em novembro de 2006 foi diagnosticado que eu tenho
menopausa precoce, eu tinha 29 anos na época e nunca tinha ficado grávida (o link que marquei tem uma leitura bem interessante que me identifiquei bastante quanto o aspecto fisiológico).
Ocorre que eu ia todo ano no ginecologista e contava que sentia calores seguidos de frio, sudorese, e outros sintomas mais íntimos e o médico dizia que era stress, emprego novo, fim de faculdade, isso se arrastou por pelo menos uns 3 anos, onde eu tinha a mesma queixa e a mesma reposta...
Toda vida ele tinha uma desculpa, e eu tola, não fui em outro para comprovar, procurar outras opiniões, até que um dia uma professora da faculdade me chamou de canto e me alertou que aquela sudorese e os calores seguidos de frio eram os mesmos sintomas da menopausa que ela estava passando (eu não tinha me dado conta que as pessoas estavam percebendo, pois eu tinha tantos fogachos seguidos que no final das contas não havia mesmo como não perceberem...), então marquei naquela semana de início de novembro a consulta.
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O fogacho, ou calorão mais comumente chamado é a sensação que comparo com a morte, vem um calor da altura dos seios até os últimos fios de cabelos e uma sudorese violenta, em questão de segundos, depois bate um frio, especialmente aqui no Sul que tem inverno rigoroso. |
Fui no mesmo médico de sempre e me clamei dos tais sintomas e mais uma vez ele disse que era "coisa da tua cabeça", mas com o que a professora havia falado na minha mente, eu disse que queria exames, ele não queria dar, mas insisti e ele deu a contra gosto.
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eu uso leque até hoje... |
No dia 23/11/2006 eu voltei lá com os resultados dos exames, é claro que eu havia lido e não entendido nada, e ele começou a análise e de repente ele ficou sério e disse:
"Aqui tem uma surpresa para mim, tu realmente tinha razão"
Ali eu senti que a coisa não era boa pro meu lado, mas fiquei com cara de paisagem esperando pelo veredito, não tinha real dimensão do estrago que ia se dar na minha vida as palavras seguintes do infeliz... Ele disse e escrevo com a precisão de quem nunca vai esquecer as palavras mau ditas:
"Tu está na menopausa, segundo teu exame pós menopausa"
Eu perguntei o que queria dizer ele respondeu mais ou menos assim "quer dizer que nunca tu vai ser mãe, tu não tem óvulos, existem alternativas para fertilização, que se pegar um óvulo de outra mulher e fertilizar com espermatozoide de teu marido e implantar em ti vai crescer, mais não vai ser nada teu".
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Me fechei em meu casulo, me guardei em mim mesma por anos... |
O resto que ele falou eu quase não ouvi, pois foi como a morte para mim, naquela hora o filho tão querido e sonhado que eu tinha morreu, me senti castrada, suja, menos mulher, feiosa, tudo ao mesmo tempo como uma explosão de milhões de estrelas, fiquei imóvel, mas berrava por dentro e o médico continuava dando instruções e fez uma receita, lembro que ele perguntou se eu havia entendido... sim claro "doutor", ele me disse que eu havia reagido bem, mandou tomar os remédios e voltar em 15 dias.
Nunca voltei nele, comecei a peregrinação por todos médicos que a UNIMED tinha cadastrados na região, perdi as contas em quantos fui, nunca contava que sabia o meu problema, repetia os exames, e todos sempre educadamente me contavam o problema, com humanidade, mais eu sempre fiquei com as palavras do infeliz que me tratou anos "tu nunca vai ser mãe".
Lembro detalhe por detalhe do que aconteceu naquele dia, cheguei em casa e não contei pro marido, ele é professor também e me contava as coisas da escola eu não ouvia, não sentia, não via, comi sem mastigar, nem sei como engoli, via sem enxergar, ouvia sem ouvir, eu estava num vácuo, como se fosse uma bolha, vazia, oca, estéril, castrada...
A explosão que o médico ficou feliz em não ver se deu quando cheguei na minha escola e vi as mães chegando com os filhos para o período da tarde...
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Foi o meu 11 de setembro... Meu inferno pessoal começou ali... |
Não vou me ater essa parte... Mas foi a primeira vez na vida que perdi o juízo, depois disso nunca mais fui a mesma pessoa, fazem 6 anos, quase 7 de diagnóstico, quase 10 o tempo do meu casamento em menopausa, e não me acostumei, sempre digo que é um luto sem o morto...
São 6 anos que choro por não ter meu bebe, por não sentir a vida pulsar dentro de mim, por me sentir menos mulher que as outras, a sensação é de castração física e mental.
Não sei se um dia vou superar essa tristeza de não gerar meus filhos, de não senti-los dentro de mim, é um sentimento de perda, de morte... É como eu sinto, uma morte, procuro não pensar mais nisso como pensava antes, resolvi canalizar minhas energias a outros projetos, novos valores e novas histórias.
Há um tempo atrás, uns dois anos mais ou menos eu passei a utilizar mais a internet em casa (eu usava antes para jogar no Orkut), utilizar para valer, para ver o que as pessoas estavam falando do mundo, voltar a interagir com as pessoas, sair da bolha que criei para mim mesma, foi então que clicando aqui, clicando ali, não sei como descobri a
Joana e a Vitória de Cristo, a
Cris, o Edinho e o Vini, e outros blogs que fui e vou acompanhando até hoje. Eu já tinha um blog, mas nunca havia escrito nada nele, só criei fiz um post e ficou ali a conta parada, e com ela eu ficava vasculhando outros blogs e lendo as histórias das pessoas, histórias reais, de gente como eu, não fantasias de livros de ficção que eu lia sempre.
O amor da Joana e do Marcelo pela Vitória de Cristo era e é tão grande, puro, incondicional, tão tudo que eu fiquei maravilhada por descobrir que ainda existem pessoas com coração puro nesse mundo tão cruel e injusto, e meu coração magoado começou a despertar com as histórias que a Joana contava do dia a dia da filha, de início só lia, não comentava nada, ria e chorava com os progressos da princesa. Quando ela
partiu (este link a Joana conta como foi meses depois de ter ocorrido o falecimento da gatinha), em 17 de julho de 2012, eu como sempre abria o painel do blogger e ia logo ver as novidades da Vivi, a morte dela foi um choque para mim, chorei como há muito não chorava. Tenho saudades dela como se fosse alguém que tive em meus braços, torço muito pela felicidade da Joana e do Marcelo.
O outro blog que muito me ajudou a superar a minha tristeza, é o da Cris, onde ela com sua fé inabalável conta a história de seu filho Vinícius, portador de ALD. Não vou me prender na enfermidade do menino, mas sim no exemplo de mãe e esposa com uma fé e um amor em Deus inquestionável, no blog da Cris eu reencontrei e minha fé que estava abalada e um tanto esquecida ( não vou ter vergonha de contar que nem as orações antes de dormir eu fazia mais). A Cris fala de Deus e profetiza a cura do Vini com tanta fé e força que hoje eu tenho vergonha de pensar que um dia eu tive dúvidas quanto o amor de Deus na minha existência.
Assim, com ajuda do médico que vou, com a família, com amigas virtuais e outras amigas pessoais ( não vou nomear para não deixar ninguém de lado) eu fui superando o luto e voltei a me cuidar, me enfeitar e resolvi junto com o Paulinho que já estava na hora de entrarmos na fila de adoção, então em 8 de maio de 2012 entramos com a papelada no Fórum de Sombrio, mas isto eu já contei neste blog.
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Imagem do link que marquei no início, a mulher na menopausa fica com o corpo como uma maçã, muda tudo na gente, desde o cabelo até a pele. |